segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Biologicamente a vida humana começa no ato da concepção, ocorrendo durante seu desenvolvimento inicial, a cultura começa a conspirar contra o biológico. Com o nascimento o que existe é o elo entre o seio a boca, vindo depois manifestações dos dedos, das pernas, mãos, braços, etc., na ânsia de expressar mais vida (Medina, 1991).
O corpo visto de forma biológica, natural e universal, trás um resumo simples do que seja este corpo: um conjunto de ossos, músculos e articulações, sendo então todos iguais.
Nesta visão o conceito de educação se resume em trabalhar corpos naturalmente melhores, mais fortes, mais capazes e excluir corpos naturalmente piores, mais fracos e incapazes.
Durante o século XlX, a elite dominante começou a se preocupar com a educação (brasileira no caso), a qual respondia ao âmbito intelectual, higiênica, moral e física, caindo nas mãos de médicos higienistas da época, ou seja, nas mãos destes a pratica da educação física. O que se pretendia com essa idéia, era a eugenia da raça, melhoria do padrão do povo.




Geertz (1978) sustenta que a capacidade mental, durante a evolução humana foi permitido certas atitudes culturais como a utilização de ferramentas, o convívio social e o inicio da linguagem. Dessa forma a cultura, mais do que uma conseqüência de um sistema nervoso estruturado, seria um ingrediente para o seu funcionamento, afirma o autor que a cultura e o sistema nervoso precisavam tanto um quanto do outro.
Para Gehlen, toda gama de comportamentos humanos é determinado culturalmente, visto que no homem contemporâneo só é possível encontrar resíduos ou resquícios instintivos.
Existe um arcabouço biológico semelhante a todos os seres humanos, mas que se expressa e se desenvolve de diferentemente dependendo da influencia cultural. Os primeiros movimentos realizados pelo corpo humano são desenvolvidos e determinados em função de uma cultura, ao nascer uma criança esta submetida a um conjunto de regras, valores e normas sociais que vão influenciando seu comportamento.
No corpo há uma intervenção dinâmica entre o biológico e o cultural, que não é possível encontrar limites entre os dois. Uma pessoa sente fome por determinado alimento e não outro. A sensação de dor pode ser biológica, mas o limite do suportável é variado. A capacidade de sentir cheiro é biológico, mas a avaliação entre o que é ou não agradável é cultural, assim como o choro, a excitação cultural, etc.
Marcel Mauss (1935) sistematizou estas idéias culturais do ponto de vista cultural ao definir que as técnicas culturais como maneiras como os homens, sociedades, sabem servir-se de seus corpos. Segundo ele, o corpo aprende certas técnicas de movimento e é a sociedade especifica em que ele vive.
De acordo com Mauss, a técnica que utilizamos para determinados ações não é influenciada exclusivamente pelo desenvolvimento biológico, existe nela todo um determinante cultural. Mauss procura indicar as influencias culturais que elas sofrem, e como elas podem ser transformadas.
Segundo (Heilborn, 1997) a percepção, sensações físicas, os próprios sentimentos são efeitos da cultura. Ao se olhar uma pessoa pode-se enunciar as características que ela possui e a que grupo social ela pertence, claro que subjetivamente.



Rodrigues (1986) afirma ser inegável a existência de conjuntos de motivações orgânicas, que conduzem seres humanos a determinados tipos de comportamentos. Mas que, a cada uma dessas motivações biológicas, a cultura atribui uma significação especial, em função da qual assumirá determinadas atitudes e desprezarão outras.
Percebe-se então que não há comportamentos que não passe pela influencia cultural e que é sobre essa influencia que os corpos são formados.
O corpo não foge as influencias culturais, que é ele o meio de expressão fundamental do ser humano, sendo assim, não há possibilidade de existência de uma dimensão física isolada de sua totalidade.
A visão de um corpo essencialmente biológico afasta a área de uma compreensão de que são os significados atribuídos pela sociedade que definem o que é corpo e como ele age nas mais diferentes situações, Mauss explica esta visão, quando afiram que cada pessoa irá servir de seus corpos por intermédio de técnicas adquiridas ao longo de sua existência e transmitidas pela sociedade em que estão inseridas.
Merleau-Ponty, em seu estudo sobre percepção, já ressaltava que o corpo é uma forma de expressão, plena de intencionalidade e poder de significação, contrapondo a frase de Descartes (penso, logo existo), quando diz “eu sou meu corpo”, (existo logo penso).
Durante muito tempo a doutrina da instrumentalidade do corpo (o corpo como instrumento da alma) perpassa os pensamentos de grandes filósofos antigos e medievais. Pensavam assim os Órficos, Platão, Aristóteles, Epicuro, São Tomas de Aquino, Hobbes, etc.
Segundo Medina (1991) o mundo se tornara mais compreensível quando formos capazes de transcender a razão formal... isto parece vago mas aqueles que já tiveram oportunidade de vivenciar alguma experiência místicas, como a meditação transcendental e/ou outras técnicas orientais, que costumam unificar o homem e ultrapassar a palavras, sabem do que estou falando, ainda neste pensamento o autor comenta que, a nível de nossa cultura, teríamos q nos atentar para vivencias autenticas realizadas através da dança, do esporte, da arte, da poesia, etc., que podem de certa forma, proporcionar esta dimensão de unidade e totalidade de nossa relação com o mundo e com os outros.
Regis Morais: “Há um desserviço mecanicista que uma medicina cartesiana vem fazendo a interpretação da realidade corpórea, a cardiologia vendo o corpo como um sistema de irrigação e bombeamento, o ortopedista como um sistema de alavancas e campo de trações, o gastroenterologista como um sistema de matérias ingeridas, que vai do alimento nobre as fezes, e assim por diante. Portanto viva o Clinico Geral que, apesar de suas limitações provocadas pelo progresso das ciências contemporâneas, é o cara que costuma ver o corpo de corpo e alma, não é mesmo?”
É preciso superar esta visão do corpo, como um simples objeto, um objeto sendo inscrito na categoria do jurídico, isto é, julgado como feio ou bonito, bom ou ruim, grande ou pequeno, forte ou fraco, magro ou gordo, feminino ou masculino, preto ou branco, sensual ou impotente, novo ou velho, rico ou pobre, etc.
Se concretamente somos um corpo (que estabelece relações), cultural e conceitualmente temos muitos corpos, podemos falar de um corpo biológico, um corpo orgânico, um corpo objeto, um corpo carnal, um corpo monumental, um corpo acrobático, um corpo erógeno, um corpo produtivo, fragmentado, etc.
O ser humano só é humano pela sua transcendência, esta entendida como capacidade peculiar de consciência de ir alem das relações vegetativas, biológicas e naturais comuns aos demais seres vivos, portanto, o corpo verdadeiramente humano e também um corpo transcendental, o seu oposto é o corpo alienado. 
Levi Strauss lamenta que ninguém tivesse feito o que Marcel Mauss iniciou, ou seja, um inventório de todos os usos que os homens fazem de seus corpos em todos os cantos do mundo e nos vários momentos históricos. Esse trabalho contribuiria também para uma contraposição aos preconceitos raciais, mostrando que a variação existente entre os homens em varias localidades não é devido a diferenças biológicas hierárquicas inscritas em seus corpos, mas a diferenças culturais expressas por meio dele. Em outras palavras, não existe corpo melhor ou pior, existem corpos que se expressam diferentemente, de acordo com a história de cada povo em cada região, de acordo com a utilização que cada povo foi fazendo dos seus corpos ao longo da história.






Trabalhar com diferentes culturas, implica em trabalharmos de uma maneira que disperte o interesse do individuo que busca uma atividade física, seja ela através da dança, do esporte, do jogo, etc.
No campo pedagógico tratar todos os corpos de maneiras iguais seria pensar nos seres humanos em capazes ou incapazes, o que acaba resultando em exclusão daqueles que atendem as exigências dos profissinais desta área, o que seria trabalhar com o interesse do professor e nao do aluno.
A reforma pela qual a Educação Física tem que passar nao é algo que acontecerá a curto prazo, mas "os profissionais envolvidos com a educação e a educação fisica, não podem estar preocupados em formar seres iguaizinhos a nós mesmos, todo processo pedagógico critico deve permitir que as pessoas envolvidas nele possam ser elas mesmas" (Medina, 1991).
Nessa visão, torna-se necessário, não trabalhar o que nos convém, mas sim o que é de interesse do aluno
[...o professor deverá procurar levar o alunos,ao realizar as ações motoras, compreender seu significado e as formas de execução...](Daólio, 1996)

Explorar os movimentos naturais do individuo, ou seja, os movimentos que excutamos de maneira espontânea, livre de técnicas, pois  Educação Fisica deve privilegiar a aprendizagem do movimento, o que segundo Go Tani possam estar ocorrendo outras aprendizagens em decorrência da pratica das habilidades motoras.
As habilidades básicas podem ser classificadas em habilidades locomotoras(andar, correr, saltar, saltitar), e manipuláveis (arremçar, chutar, rebater, receber) e estabilização (girar, flexionar, realizar posições invertidas), os movimentos específicos são mais influenciados pela cultura e estão relacionados a outras práticas corporais(Tani, !987).
A partir desses movimentos que vamos desenvolvendo coordenação e aptidões para determinadas atividades, nao que nao tenhamos habilidades restritas, mas sim que se adaptarão mais ao esporte do que a dança, a luta à ginástica, e assim por diante.É necessário saber como trabalhar com esse arsenal de habilidades que trabalharemos num futuro próximo,

"Nesse sentido, temos proposto uma Educação Física Plural, cuja condição mínima e primeira é
que as aulas atinjam todos os alunos, sem discriminação dos menos hábeis, ou das meninas, ou dos
gordinhos, dos baixinhos, dos mais lentos. Esta Educação Física Plural parte do pressuposto que os alunos
são diferentes, recusando o binômio igualdade/desigualdade para compará-los. Sendo eles diferentes e tendo
a aula que alcançar todos os alunos, alguns padrões de aula terão que, necessariamente, ser reavaliados.
Parece que é o que vem acontecendo com as aulas mistas. Os professores, não sem dificuldades, tem lidado
com as diferenças entre meninos e meninas."(Daólio, 1996).
Na visão de uma pluralidade cultural, o que se busca nao é um rendimento do aluno como se ele fosse um atleta, nem comparar habilidades de um e outro, mas sim fazer com que os alunos tenham vontade de praticar a atividade, de maniera prazeroza e nao obrigatóriamente, faz-se necessário um cooperação de todos, onde nao a haja diferença entre esterótipos, gênero ou raça.
A visão de que todos teriam que ter o mesmo rendimento, ou que todos execultam movimentos de forma mecânica tenha contribuido para que a educação física classificasse as pessoas em capazes e incapazes, deixando de lado o mundo de práticas corporais que existem nesse meio profissional.
Excluir, faz com que muitos percam o interesse por atividades corporais, seja ela dança, luta, jogo, esporte ou ginástica, é preciso fazer com que desde tenra idade a criança interaja com outras crianças, com o fim de que ela perceba que todos sao capazes de excutar qualquer movimento, desde que se estimule sua espontaneidade.
Os jogos cooperativos ganha importância, porque nos liberta da competição, pois seu ineresse se direciona para a participação, excluindo a pressão de ganhar ou perder produzido pela competição (Brown).


                                      
DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo, São Paulo, Papirus, 15º Edição, 2010.
 MEDINA, J.P.S. O brasileiro e o seu corpo, Campinas, SP, Papirus, 3º edição, 1991.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1989.
BERTHERAT, Therése. O corpo tem suas razões antiginastica e consciência de si, São paulo, Livraria Martins fontes  LTDA, 14º edição, 1991.
 FREIRE, J.B. De corpo e alma: O discurso da motricidade, São Paulo,  Summus,  1991, V.40, pp. 26.
DAMÁSIO,  A. O erro de descartes, Lisboa, CIA. Das Letras, 1996,  2º edição. 

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